Revolucionária: Nísia Floresta e o feminismo brasileiro
- 2 de mar. de 2021
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Que o feminismo no Brasil viveu diversos momentos não é novidade, bem como a participação e envolvimento de diversos nomes ao longo desses anos de luta. Mas existe um nome em específico que chama atenção ao olhar, históricamente, para o movimento feminista no Brasil. Ela viveu uma vida cercada de tragédias familiares, foi considerada subversiva (assim como tantas outras), fundou uma escola para meninas à frente de seu tempo e foi, a primeira mulher a escrever sobre feminismo no país. Hoje vamos viajar pela história incível de Dionísia, ou melhor, Nísia Floresta.

Nascida Dionísia Gonçalves Pinto (1810 - 1885), veio de uma família de posses no interior do Rio Grande do Norte, antiga Papari (hoje Nísia Floresta). Nísia casou muita nova, com 13 anos, como era de costume na época. Contudo seu primeiro casamento não durou muito mais que um ano: ela fugiu quando seu pai, advogado liberal, que era muito envolvido na política e principalmente nos movimentos antilusitanos, precisou mudar-se novamente. Posteriormente ela conheceria o grande amor de sua vida, Manoel Augusto de Faria Rocha, com que se casaria e teria três filhos. Foi perseguida pelo ex-marido que não aceitava o fim do casamento e, posteriormente quando a imprensa resolveu atacá-la por suas falas feministas nos jornais, a história foi usada com intuito de descredibilizá-la (lembre-se que, para o século XIX uma mulher separada era um escândalo dos grandes!)
Em 1930 ela publicou seus primeiros artigos em jornais direcionados para mulheres e dois anos depois publicou a obra que marcaria sua vida para sempre: uma tradução da obra da escritora Mary Wollstonecraft ~ mãe da Mary Shelley, autora de um dos romances mais famosos do mundo: Frankenstein ~ "Direitos das mulheres e injustiça dos homens" que foi assinado sobre seu pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta, que tornou-se, a partir daquele momento, seu nome oficial.
Em 1938, após alguns anos em Porto Alegre, ela abre no Rio de Janeiro o Colégio Augusto para meninas que contava com aulas de línguas (além do português também latim, inglês, italiano e francês), história e geografia, matemática, caligrafia, música, dança, desenho e educação física. A escola ficou aberta por 17 anos e foi muito criticada por ter uma metodologia diferente das demais na época, mas também foi altamente aceita pela sociedade carioca.
A partir de 1840 suas publicações se tornam mais intensas e também Nísia se torna mais atacada pela mídia conservadora. Alguns anos depois ela partiu para a Europa com seus filhos, onde fez amizade com grandes nomes como Auguste Comte e Victor Hugo, por exemplo. Mesmo fora do país, uma série de artigos entitulados "emancipação da mulher" foram publicados nos jornais brasileiros levando a necessidade de uma educação de qualidade para meninas. Ela passou o restante de sua vida entre o Brasil e a Europa (diversas cidades) e sempre produzindo artigos que abordavam os direitos das mulheres e a igualdade. Ela faleceu em Bonsecour, França em decorrencia de uma pneumonia. Seus restos mortais foram trazidos ao Brasil e hoje descansam na sua cidade natal.
Nísia não chegou a ver o fim da escravidão, a proclamação da República ou mesmo as conquistas do movimento feminista, mas ela participou ativamente de todos esses momentos ~ especialmente os das mulheres ~, afinal ela lutou por um Brasil mais justo.
"Os homens, não podendo negar que nós [mulheres] somos criaturas racionais, querem provar-nos a sua opinião absurda, e os tratamentos injustos que recebemos, por uma condescendência cega às suas vontades; eu espero, entretanto, que as mulheres de bom senso se empenharão em fazer conhecer que elas merecem um melhor tratamento e não se submeterão servilmente a um orgulho tão mal fundado."
- Nísia Floresta em Direitos das mulheres, injustiça dos homens (1932)
Fontes
SCHUMAHER, S. BRAZIL, E.(orgs) Dicionário Mulheres do Brasil: 1500 até a atualidade. Zahar: Rio de Janeiro, 2000, p. 520 - 522
SOUZA, D. CARARO, A. Extraórinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil. São Paulo: Seguinte, 2017, p. 36 - 39.
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