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De jovem ousada à militante modernista: Pagu a musa antropofágica

  • Foto do escritor: Fernanda
    Fernanda
  • 31 de mar. de 2021
  • 3 min de leitura

O Brasil dos anos 1920 fervilhou, especialmente o eixo Rio-São Paulo. Além da urbanização e modernização das cidades, movimentos artíticos tomaram forma e marcaram a história do país. Se você prestou atenção das aulas de história sabe que eu tô falando da Semana de Arte Moderna e do Movimento Antropofágico.


Se você não tem ideia do que é tudo isso aqui vai uma explicação rapidinha: vários artistas (das mais diversas áreas) se uniram para propor que se exaltasse a beleza do nosso país ao invés de ficarmos copiando tudo que a Europa ou USA faziam. Você com toda certeza já estudou o Apaburu, de Tarsila do Amaral, seja em Artes ou em História. Ela, Oswald de Andrade e tantos outros formaram esse movimento. No meio dessa galera toda, uma jovem de 18 anos se destacou por seu dom com as palavras e desenho e foi eleita a musa do movimento. Essa jovem era Patrícia Galvão, ou como ficou conhecida depois disso, Pagu. E hoje a gente vai te mostrar um pouco da história dela.



Patrícia (1910 - 1962) desde muito nova se mostrava irreverente. Quando adolescente chocava todos com seu batom escuro ~sua marca registrada~ , roupas transparentes e respostas prontas para qualquer injustiça e/ou assédio. Para a sociedade da época, Patrícia era ousada e considerada mal educada, mas a verdade é que ela era uma jovem a frente se seu tempo. Depois de se envolver com os modernistas ela virou Pagu (apelido recebido de Raul Bopp) e também se envolveu amorosamente com Oswald de Andrade.


Agora, atenção no rolo de relacionamentos: Oswald era casado com Tarsila do Amaral, que era amiga da Pagu. Pagu era amante de Oswald e acabou engravidando, mas ele não assumiu ela. Pagu casou com outro mas não durou nada. Nisso, Oswald se divorciou de Tarsila e se casou com Pagu em 1930. Ele era 30 anos mais velho que ela e sua ex esposa era amiga de Pagu. Para o Brasil de 1930 esse era o maior escândalo que poderia existir.


Pagu teve contato, numa viagem à Buenos Aires, com o material comunista e se interssou pelo tema. Passou a frequentar reuniões do Partido Comunista Brasileiro e fazer críticas sérias à elite e às feministas de elite. Pagu, acreditava que para uma sociedade ser mais equilibrada, ela precisava resolver seus conflitos sociais. Ela subiu ao palanque para discursar mas tiros interromperam sua fala, e mataram um de seus amigos enquanto ela foi presa.Pagu foi um das primeiras mulheres no Brasil a ser presa por causas políticas (no século XX).


Pagou vivia de cidade em cidade, longe do filho e do marido que não acompanhavam-a na sua luta. Ela escreveu o primeiro romance proletário do Brasil, Parque Industrial, que publicou sob o pseudônimo de Mara Lobo (inclusive ela usou vários durante sua vida). Mesmo assim, não agradou os comunistas do partido que não gostaram das passagens de abusos sexuais relatados no livro pelas operárias. Pagu passou sua vida tentando provar seu valor para o partido aqui no Brasil, mas não conseguiu. Assim, aos 23 anos resolveu fazer uma viagem para a Rússia, visitando os Estados Unidas, Japão e China. Ao chegar em seu destino, e grande sonho (lembre-se que a Rússia nesse momento era chamada URSS, considerada uma união de Estados socialistas), decepcionou-se: festas luxuosas do partido comunista contrastavam com a triste realidade de mulheres e crianças. De lá foi à Paris onde ~foi aceita~ se filiou ao partido comunista e passou a militar além de trabalhar como jornalista. Em 1935 foi ferida em uma manifestação e deportada para o Brasil.


Ao chegar aqui, separou-se de Oswald e foi presa em virtude dos movimentos comunistas considerados clandestinos. Fugiu mas foi presa novamente: espancada, torturada e maltrada. Conseguiu sair em 1940 e então queria apenas sua vida de volta. Desvinculou-se do partido e passou a criticá-lo depois de tudo que viu e viveu. Casou-se novamente, teve outro filho e passou a trabalhar como jornalista e escritora. Foi diagnosticada com câncer de pulmão e depois de realizar uma cirurgia que não deu certo tentou tirar a própria vida em 1962. No mesmo ano, Pagu morreu de complicações em virtude do avanço do câncer.


"Pagu foi intelectual, cronista, romancista, correspondente internacional, militante, presa política, feminista e modernista, muito maios do que supõe o sonso comum, tendo arriscado a própria vida pelo que acreditava."

- trecho do livro Extraórdinárias, sobre Pagu



Fontes


SCHUMAHER, S. BRAZIL, E.(orgs) Dicionário Mulheres do Brasil: 1500 até a atualidade. Zahar: Rio de Janeiro, 2000, p. 534 - 535


SOUZA, D. CARARO, A. Extraórinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil. São Paulo: Seguinte, 2017, p. 92 - 95.


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