Mulheres que fazem história no tradicionalismo: Natália Lorenzi
- vidadeprenda
- 5 de ago. de 2020
- 4 min de leitura
O #quemfazhistoria é um quadro que nos encanta. Contar histórias reais nos move e que trazemos para vocês hoje é de uma pessoa que admiramos muito aqui no Vida. A Nati, nossa querida amiga e apoiadora, topou contar um pouco da experiencia dela como prenda e os impactos disso na vida pessoal.
Pedimos para a Nati responder as perguntas base:

*Como você se sente sendo mulher e tradicionalista?
*Participar do movimento tradicionalista lhe ajudou a se tornar uma mulher empoderada?
E acrescentamos uma pergunta bem pessoal que tem a ver com a trajetória dela: a Nati teve durante a gestão de prenda uma jornada puxada como estudante de medicina. Ela respondeu pra gente como foi manter tudo ao mesmo tempo.
Então, em suas próprias palavras, apresentamos Natália Lorenzi:

Olá amigos e amigas tradicionalistas, me chamo Natália Lorenzi de Souza, tenho 24 anos, nasci e cresci na cidade de Chapecó-SC e hoje, devido aos estudos, moro em Curitiba-PR. Quando eu tinha 9 anos meus pais me levaram para conhecer o CTG Herança Gaúcha, pois eles acreditavam que lá eu aprenderia muitas coisas e faria novas amizades; eles estavam completamente certos. Ninguém da minha família participava do CTG até então e eu fui me descobrindo e amadurecendo dentro do galpão. O CTG se tornou minha segunda casa, eu gostava de dançar, de declamar, de estar com os amigos. Com o tempo, já na categoria juvenil comecei a aprender sobre o Departamento Cultural, sobre os concursos de peões e prendas e me apaixonei. Tive uma grande mentora nesse processo de aprendizagem: Suzana Xavier ou, apenas, Suza. Ela me ensinou tanto e sou muito grata por ter aprendido não em uma “escola para prendas”, mas sim através do exemplo de uma grande mulher e prenda.

Como mulher no movimento tradicionalista sinto que tenho espaço de fala. Sei que temos tanto para percorrer ainda, mas acredito que podemos e devemos conquistar nosso lugar e nos fazer ouvir. Sinto também que as mudanças externas (resultado de lutas) têm refletido (felizmente) cada vez mais no nosso movimento organizado e temos tido avanço na quebra de vários paradigmas e quem não estiver disposto a compreender esse processo não caberá mais nesse movimento que tem por lema “liberdade, igualdade e humanidade”.
Ser uma mulher empoderada é um processo que toda mulher, na minha opinião, precisa percorrer. Assumir papéis de liderança, falar, colocar sua opinião, debater, argumentar, se posicionar. Aonde eu aprendi a fazer tudo isso? No CTG, sem dúvidas. Há algum tempo atrás a prenda de faixa era escolhida somente pela beleza, hoje a prenda de faixa representa a mulher atuante e empoderada que é reflexo do que encontramos na sociedade moderna.
*A Nati nos mostrou muito bem o que é ter uma jornada estudantil/profissional muito puxada e encarar o desafio de ser Prenda da CBTG, conseguindo executar com maestria. Ela topou dividir com a gente e com quem nos acompanha como foi esse desafio, sem glamourização.
No ano de 2016 eu decidi mudar o curso da minha graduação e ser o que sempre quis: médica. No meio desse sonho existia um outro sonho: ser prenda de faixa. Quem é prenda sabe como é preciso dedicação. Quem fez/faz cursinho pré-vestibular também sabe como a dedicação é fundamental. Eu me encontrei no meio de um dilema: ousar ou desistir de algum sonho? Vocês já conhecem o fim da história, eu consegui realizar meus dois sonhos, mas muitos não sabem como foi difícil esse caminho. Quando eu decidi cursar medicina eu não tinha condições financeiras para estudar em uma universidade particular, eu inclusive tive ajuda financeira de um anjo para o meu cursinho pré-vestibular. E essa dificuldade financeira obviamente também se aplicou para a vida de prenda.

Eu estudei um ano e meio para os vestibulares e para o concurso estadual do MTG-SC e, depois, para o concurso da CBTG. Em vários (VÁRIOS) momentos achei que não conseguiria realizar nenhum dos dois sonhos. Me cobrei muito, chorei bastante, tive cobrança externa, pensei que talvez o CTG estivesse atrapalhando meus estudos para os vestibulares, parei de dançar, decidi não concorrer para a CBTG e ouvi da Suzana: “tem certeza, Nati? O cavalo não passa encilhado duas vezes”. Foi aí que percebi que para mim ou era naquele momento ou nunca mais eu seria prenda da CBTG. Me reinventei, vendi doces no CTG para juntar dinheiro, fiz minhas pastas e estudei para o ENEM ao mesmo tempo. Em novembro fiz o ENEM e o concurso da CBTG com duas semanas de diferença, foi absolutamente uma loucura kkkk. Fui perfeita no concurso da CBTG? Nem um pouco! Fui perfeita no ENEM? Claro que não! Mas no fim deu certo! E eu juro para vocês que ganhar a faixa de 1ª prenda não foi o mais importante, assim como não passei em 1º lugar no ENEM e mesmo assim vivo a experiência de estudar em uma universidade maravilhosa, com uma bolsa integral e numa cidade que sempre quis conhecer.
O que quero passar aqui não é uma história perfeita com desfecho feliz, mas sim uma história real, com muitas pedras no caminho e com um final feliz. Você que está lendo e tem um ou mais sonhos e acha que eles não podem se realizar ao mesmo tempo, repense. Com organização, muito planejamento, força de vontade e amor a gente move montanhas e não apenas satisfaz o nosso ego, mas vive experiências fantásticas que fazem toda a diferença no fim das contas. Ser prenda da CBTG e estudante de medicina ao mesmo tempo foi absurdamente desafiador, no entanto me engrandeceu de uma forma que me faltam palavras para descrever. Me descobri muito mais forte do que imaginava e você também vai descobrir essa força. Sonhe alto e realize!
*Mensagem da Nati:
Você, prenda que está lendo esse texto comprido, tem um papel extremamente importante na preservação da cultura gaúcha e a sua voz deve ser ouvida. Lute por isso! Nossa capacidade é igual à dos homens e nossas ideias precisam de espaço. Vamos juntas somar cada vez mais e buscar a igualdade que é nossa por direito.
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