A primeira mulher alfabetizada no Brasil: Madalena Caramuru
- Fernanda
- 19 de abr. de 2021
- 2 min de leitura
O Brasil Colônia (1500 - 1822) conta com uma pequena participação histórica registrada feminina. Renegadas aos trabalhos domésticos, procriação e às orações, as mulheres apareceram pouquíssimo como protagonistas. Nesse cenário, educar meninas parecia absurdo mas foi fundamental para ampliar a atuação feminina e mudar a história do Brasil. Hoje a gente conta a breve história de Madalena Caramuru, a primeira brasileira alfabetizada, filha da índia Paraguaçu* (batizada de Catarina do Brasil) com o náufrago Diogo Álvares Correa, o Caramuru.

Madalena (século XVI - ?) morava com sua família em Salvador. Se casou em 1534 com um português que, segundo afirmam alguns históriadores, a alfabetizou. Tornando Madalena a primeira brasileira alfabetizada. Seu casamento foi registrado na Igreja Nossa Senhora da Vitória, em Salvador, e por isso temos a comprovação de sua existência.
Madalena se manifestava em prol do seu povo, defendendo dos portugueses. Em 1561 ela escreveu uma carta ao padre Manuel da Nóbrega, chefe da primeira missão jesuítica no Brasil, exigindo ~ isso mesmo que você leu: ela exigiu! ~ o fim dos maus-tratos às crianças indígenas e o inicio da educação feminina e, inclusive, se ofereceu para ajudar financeiramente o projeto.
O padre aceitou as ideias de Madalena e recorreu a rainha de Portugal, d. Catarina pedindo a autorização necessária para realização do projeto. O Padre Manuel sempre tentou integrar colonos e indígenas, ao contrário da maioria dos homens brancos da época. Além disso o padre observou que a presença das mulheres nos cursos de catecismo era muito maior e por isso não viu mal algum em que aprendessem a ler e escrever.
Porém a corte portuguesa não gostou dessa iniciativa e vetou dizendo que ela seria "perigosa". Infelizmente as mulheres só conseguiram ser alfabetizadas oficialmente no século XVIII, e isso com muitas restrições. Essa situação de veto da corte portuguesa colocou Madalena como pioneira da alfabetização feminina e também como a primeira defensora não apenas do seu povo, mas da educação das mulheres.
Apenas em 1827 que foi autorizada a abertura de escolas públicas para meninas e garantiu apenas os estudos primários. Precisamos lembrar, também, que durante o século XX as mulheres acabaram sendo as principais beneficiadas pela universalização do ensino e isso é um dos marcos mais importantes do movimento feminista, quebrando uma barreira de gênero gigantesca.
Essa carta enviada por Madalena representa a busca historiográfica pela construção do papel feminino no Brasil Colônia, tão negligenciado durante muito tempo pelos pesquisadores e mais ainda pelos habitantes da época que mantiveram poucos registros sobre as ações femininas da época. Obviamente, Madalena Caramuru foi uma excessão do padrão feminino do século XVI no Brasil ~ e no mundo ~ momento em que as mulheres foram mantidas afastadas dos bens culturais.
* Alguns pesquisadores discordam sobre o nome de sua mãe ser Paraguaçu ou Moema
** Não há muitas imagens de Madalena, por isso usamos a ilustração feita por Joana Lira para o livro Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil (2017).
Fontes
SCHUMAHER, S. BRAZIL, É. Dicionário mulheres do Brasil: De 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000, p. 404.
SOUZA, D. CARARO, A. Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil. São Paulo: Seguinte, 2017, p. 12 - 15.
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