Duas faces farroupilhas: a heroína e a estancieira.
- vidadeprenda
- 8 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
A Revolução Farroupilha (1835 - 1845) sempre é tema muito abordado dentro do tradicionalismo gaúcho. Os fatos políticos foram vistos e revistos por tantos e por todos. Os grandes homens que lutaram em prol de seus ideias sempre são lembrados, enquanto a participação feminina é ~eu diria em 98% das vezes ~ resumida ao nome de Anita Garibaldi.

Ana Maria de Jesus Ribeiro (1821 - 1849) era filha de um tropeiro e chamada de Aninha do Bentão (seu pai chamava Bento). Só passou a ser chamada Anita quando conheceu e se envolveu com Giuseppe Garibaldi. O italiano se referia a ela como Anita, tentando usar o o diminutivo de Ana, mas como o português dele não era 100% ele dizia Anita ao invés de Aninha.
Alguns pesquisadores contam que Ana tinha um espírito valente e livre, o que levou sua mãe à encontrar logo um marido para a filha. Contam que Ana teria chicoteado um sujeito que se recusou a dar licença para passar pelo caminho. O homem deu queixa as autoridades e a família precisou se mudar. Ana se casou aos 14 anos com um sapateiro mais velho que ela. Quando a Revolução Farroupilha iniciou-se (1835), seu marido se alistou no Exército Imperial, o que apenas contribuiu para a ruína do casamento. Aos 18 anos Ana conhece seu grande amor, Garibaldi, no cerco de Laguna.
Embarcou com o italiano no navio e lutou pela República, deixando para trás seu casamento ainda vigente e as convenções sociais da época. Anita disparou canhões, encarou fogo cruzado, foi feita prisioneira e fugiu. Doze dias após dar a luz precisou fugir novamente, ficou com o filho recém nascido escondida na mata por quatro dias. Em 1848 foi para a Itália e lá lutou pela Unificação Italiana. Mesmo grávida, cortou os cabelos e se vestiu de homem para encontrar Garibaldi e lutar ao seu lado.
Anita morreu de febre e desnutrição em 1849 e seu corpo está enterrado em Roma. Seu legado a fez conquistar o título de "Heroína de dois mundos" sendo consagrada no Brasil e na Itália, e entrou para o Livro de Heróis e Heroínas da Pátria.
Certamente Anita teve um papel importante para o movimento e por isso sua história se apresenta aqui, contudo nem só de Anita viveu a Guerra dos Farrapos. Por isso também falaremos de outra mulher tão importante quanto Anita Garibaldi, mas que não teve sua história contada aos quatro cantos brasileiros.
Caetana García y Gonzales (1798 - 1872), nascida no Uruguai, foi esposa do general Bento Gonçalves da Silva. Dona Caetana, como pode ser chamada, assumiu o papel do marido quando ele entra em guerra contra o Império do Brasil.

Dona Caetana integra o grupo de mulheres que participaram da Revolução Farroupilha, ela foi uma estancieira. No século XIX, o papel da mulher era voltado à educação doméstica e artesanatos, com o intuito de tornar a menina uma futura boa esposa e mãe.
Assumir os negócios da família (compra e venda de gado, mantimentos, cuidados com os terrenos, etc) não estavam nos planos das mulheres que tiveram seus maridos distanciados em guerra. Apesar da importância do papel assumido por essas mulheres que fizeram a vida seguir seu curso apesar dos pesares, pouco se sabe ou se ouve delas.
Após a minissérie da Rede Globo, baseada no Livro de Leticia Wierzchowski, A Casa das Sete Mulheres, que Dona Caetana tornou-se nacionalmente conhecida. Contudo, nos faltam pesquisas e fontes historiográficas para que possamos dizer quem foi a mulher que assumiu o lugar do marido enquanto ele lutava por seus sonhos. Caetana, assim como tantas outras estancieiras rio-grandenses, lutaram da forma que lhes era possível para garantir que o Rio Grande do Sul continuasse vivo em meio a guerra dos homens.
Fontes
SOUSA, D; CARARO, A. Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil. São Paulo: Seguinte, 2017, p. 44 - 47
SCHUMAHER, S. Brazil, E. Dicionário Mulheres do Brasil. [S.l]: Zahar Editores, 2000, p. 94 -97
*A imagem de Dona Caetana é uma foto de um quadro que se encontra no Museu de Camaquã - RS.
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