Mulheres que fazem história no tradicionalismo: Carol Pankievicz
- vidadeprenda
- 15 de jul. de 2020
- 6 min de leitura
Aqui no Vida nós contamos histórias reais. Nossas e de mulheres que acreditamos que fizeram/fazem a diferença pro mundo. O nosso primeiro post oficial do blog precisava transparecer esse sentimento. Por isso apresentamos o novo quadro: Quem faz história.

Para o #quemfazhistoria convidamos mulheres que nós admiramos e que entendemos que fazem a diferença e ressoam o empoderamento que queremos disseminar. Convidamos a Carol Pankievicz, nossa amiga que admiramos tanto, para ser a primeira a participar desse quadro que mal começou mas já tem todo nosso amor!
Perguntamos para a Carol como ela se sentia sendo mulher e tradicionalista, se participar do movimento fez com ela se tornasse uma mulher empoderada e pedimos que ela deixasse uma mensagem para quem estivesse lendo.
Então em suas próprias palavras, apresentamos Carol Pankievicz:

Me chamo Caroline Rodrigues Pankievicz, sou natural de Curitiba, 1ªRT do MTG Paraná, filiada ao CTG Querência Santa Mônica. Tenho 26 anos, sou engenheira ambiental e mãe do Bernardo de 3 anos. Ingressei no tradicionalismo com 5 anos de idade, mas meu pai é tradicionalista desde pequeno. Iniciei pela parte artística, a qual me dediquei fortemente até 2016, mas resolvi pendurar as sapatilhas. Em 2013 comecei a laçar nos rodeios campeiros e sigo ativa até hoje. Minha caminhada na cultural iniciou quando mirim, fui prenda regional em 2004, mas somente em 2014 retomei as atividades no departamento chegando a ser 1ª prenda do MTG-PR em 2016. Já fui diretora cultural adjunta da 1ªRT e do MTG-PR e atualmente sou vice coordenadora da minha região tradicionalista.
*Sobre ser mulher e tradicionalista, como se sente?
Sinceramente me sinto muitíssimo bem! Apesar no nosso movimento ser um pouco conservador, nunca me senti inferior por ser mulher, muito pelo contrário, sempre me senti cuidada e valorizada. Sempre vi grandes mulheres em cargos importantes, o próprio prendado exalta muito a mulher, a prenda! Mesmo dentro do departamento campeiro que é ocupado na sua grande maioria por homens, nunca vi uma mulher sendo desrespeitada na cancha ou inferiorizada por ser mulher. Minha região tradicionalista é uma das que mais tem mulheres laçando, disputando muitas vezes com homens, como se não houvesse diferença alguma. Claro que esse respeito foi conquistado com o tempo, mas enxergo o nosso movimento cada vez mais igualitário, com mulheres sendo patroa de CTG, coordenadora e presidente dos MTGs. Não vejo como algo revolucionário, vejo como algo que já está acontecendo. Não posso generalizar falando que tudo é um mar de rosas, mas na grande maioria das vezes me sinto uma mulher muito respeitada dentro do nosso meio.
Nós sabemos que estamos dentro de uma cultura onde a mulher era mais submissa, mas deixamos isso para os momentos de representação artísticas, no dia a dia, no rodar das engrenagens estamos no mesmo patamar que os homens.
*A Carol precisou deixar de seguir o caminho de prenda de faixa por conta de uma gestação. A gente sabe que o assunto é bem delicado, e ela topou comentar conosco sobre isso e a experiência do ponto de vista dela.
Esse assunto me assombrou muito quando descobri a gestação! Eu fiquei inicialmente com medo dos julgamentos, com receio de "perder o respeito" e admiração das pessoas, por ter engravidado no meio do processo de ser prenda. Num segundo momento fiquei muito revoltada, me senti verdadeira diminuída e até mesmo injustiçada por ter que deixar a faixa. Mas esses pensamentos me seguiram enquanto eu estava grávida, depois que o Bernardo nasceu minha opinião mudou completamente. Quando se é mãe, principalmente de primeira viagem, o mundo muda, sua vida muda, você não é mais você! Eu fiz opções na minha vida priorizando o meu filho, então eu saí da casa dos meus pais e fui morar com o pai do meu filho, eu parei de dançar, eu diminui muito as minhas visitas ao CTG, mas isso foi uma escolha MINHA. Digo isso porque vejo muitas mulheres levando os filhos pequenos no CTG, nos ensaios, nos eventos, e ta tudo certo também! Mas no meu caso, a minha vida recebia uma nova estrutura. O pai do meu filho era do meio, mas ele só laçava e nós sabemos que existe uma realidade totalmente diferente entre os departamentos, sem generalizar, é claro! Enquanto era só eu, cuidando apenas da MINHA vida, tudo certo, eu fazia o que bem entendia! A partir do momento que veio o filho e eu priorizei a minha família e não mais os meus desejos, meus sonhos de antes da maternidade, eu entendi que eu JAMAIS poderia ser a 1ª Prenda do MTG-PR com um filho recém nascido nos braços. Talvez fosse mais possível se todos os membros da minha família estivessem fortemente envolvidos com o departamento cultural, mas não era a minha realidade, e ainda assim acho pouco provável que qualquer pessoa pudesse dar o seu máximo com prenda nesta situação. E como eu falei anteriormente, A VIDA MUDA! Eu não poderia viajar o meu estado todo como eu pretendia como prenda, eu não poderia avaliar um concurso longo, sem parar para amamentar ou dar um pouco de atenção para a criança. Eu não poderia fazer viagens longas, me dedicar em tempo integral, não...

Eu tenho certeza que seria impossível pra MIM, ser a 1ª prenda que eu desejava ser, sendo mãe de um recém nascido! Os primeiros anos são fundamentais! Eu até pensei em concorrer logo em seguida para prenda veterana, mas ai me dei conta que eu continuaria não sendo a prenda que eu queria ser, claro que com o Bernardo um pouco maior eu já conseguiria me envolver mais, e existem prendas que fizeram isso e são prendas MARAVILHOSAS. Mas ai entra aquela questão do apoio familiar. Essa foi a minha opção, o que eu achei melhor pra mim, e se te tem algo que aprendemos na maternidade é: cada um tem a sua história e caminha da maneira que achar melhor, não existe uma mãe melhor que a outra, da mesma forma que não existe uma prenda melhor do que a outra, cada um é único e faz o seu melhor daquilo que acredita.
Então como eu não aceitaria ser uma prenda pela metade e nem uma mãe pela metade, eu entendi que tava tudo bem e que era o certo eu não ser mais prenda naquele momento. E hoje eu me sinto pronta para ser prenda novamente, mas não mais na categoria adulta! Achei lindo e muito importante abrirem essa possibilidade para outras mulheres que desejam ser prendas adultas mesmo com filhos ou casadas (mudaram o regulamento do PR), mas eu acredito que meu momento já passou, e não é a categoria, o número na faixa, nem mesmo a própria faixa que dirá o quanto devo me dedicar como tradicionalista. Eu pensei em concorrer este ano, mas eu não teria idade para ir pra CBTG como prenda veterana, então resolvi que vou recomeçar em 2022, quando terei idade suficiente para assumir um cargo na CBTG caso chegue lá, e farei de tudo para chegar! Porque os meus sonhos de antes da maternidade não morreram, eles só se reajustaram!

Então pra concluir tudo isso: cada mulher é única e sabe o tamanho dos passos que pode dar! Ela pode ser mãe, ser casada, viúva, separada, o que for, se ela fizer por amor, ela estará onde quiser estar! Eu sei que muita gente não concorda com a mulher casada ou com filho ser prenda adulta, é algo a ser muito discutido ainda, mas o ponto chave é, o quanto cada um consegue se dedicar? Não é a pureza, a essência, a representatividade da faixa, mas sim o TRABALHO que a pessoa exerce! Uma pessoa que está no auge da sua carreira profissional, certamente não será a melhor prenda ou peão, porque dificilmente vai conseguir fazer tudo bem feito! Então,o que realmente vale pra mim é: QUAL A SUA DISPONIBILIDADE? O quanto ser prenda será uma prioridade na sua vida? Ser prenda não é a faixa, é o trabalho! E pode ter certeza, que as boas prendas serão lembradas pelo trabalho e não pelo concurso, pelo vestido que usou, pela poesia que declamou, pelo artesanato que levou, SERÁ LEMBRADA PELO LEGADO QUE DEIXOU!
Eu hoje serei uma prenda muito melhor por tudo isso que vivi, e tenho certeza que não seria a prenda que gostaria de ser, porque eu escolhi ser mãe, mesmo não sendo planejado por mim, mas foi planejado por Deus. E seria muita vaidade minha querer ser prenda simplesmente por ser! Eu ainda terei muitas chances de deixar o meu legado!
*Mensagem da Carol:
Continuem a lutar!, Se eu não presenciei praticamente nenhum momento em que fui diminuída por ser mulher, certamente foi pelo fato de que outras mulheres se posicionaram e não permitiram que nossa voz fosse calada. Corram atrás dos seus sonhos, é clichê, mas é verdade. Podemos ser o que quisermos, alcançarmos o que quisermos, estar no cargo que quisermos! Nosso movimento é conservador, mas ele está em movimento, constantemente, sendo assim, se posicionem, questionem, e enfrentam todas as batalhas. Lembrem-se que também estamos numa representação cultural, preservação de costumes. Não podemos mudar aquilo que nos propomos a vivenciar e perpetuar, mas isso não significa que devemos nos calar quando a ação fere o ser humano que esta de baixo do vestido. Acredito que estamos em um caminho bem promissor dentro do movimento tradicionalista gaúcho, cada vez mais igualitário, cada mais acolhedor! Respeito acima de tudo!
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